É comum que pais e cuidadores de crianças com autismo se deparem com comportamentos repetitivos e, por vezes, difíceis de compreender — um dos mais recorrentes é o hábito de morder objetos. Esse comportamento pode surgir em diferentes fases e contextos, gerando dúvidas, preocupações e, muitas vezes, frustração por não saber exatamente o que está motivando a criança a agir dessa forma.
Neste artigo, vamos abordar as possíveis causas por trás desse comportamento específico, explorando fatores sensoriais, emocionais e comportamentais que influenciam essa atitude. Além disso, vamos mostrar como a alimentação pode ser uma grande aliada nesse processo, ajudando a promover mais equilíbrio e bem-estar para a criança. Se você busca entender melhor o universo do seu filho e encontrar formas de apoiá-lo, este conteúdo é para você.
Por que meu filho autista morde objetos?
O comportamento de morder objetos em crianças com autismo pode ter diferentes origens, e entender essas causas é essencial para lidar com a situação de forma acolhedora e eficaz. Abaixo, listamos os principais motivos que podem estar por trás desse hábito:
Fatores sensoriais: hipersensibilidade ou hipossensibilidade
Muitas crianças dentro do espectro autista apresentam alterações no processamento sensorial. Algumas são hipersensíveis a estímulos (como sons, toques, cheiros), enquanto outras são hipossensíveis, ou seja, sentem menos estímulos do que o normal. No caso da hipossensibilidade oral, por exemplo, a criança pode procurar estímulos através da boca — mordendo objetos, roupas, brinquedos ou até partes do próprio corpo — como forma de compensar essa necessidade sensorial. Para ela, essa ação traz uma sensação de conforto ou organização interna.
Ansiedade e frustração
Outra explicação comum é o acúmulo de emoções como ansiedade, estresse ou frustração. Quando a criança se sente sobrecarregada ou incapaz de lidar com alguma situação, morder pode ser uma forma de autorregulação emocional. Assim como alguns adultos roem as unhas em momentos de nervosismo, a criança autista pode morder objetos para aliviar a tensão e se acalmar.
Fase de desenvolvimento e exploração
Em alguns casos, especialmente nos primeiros anos de vida, o ato de morder pode estar relacionado a uma fase natural de desenvolvimento. Nessa etapa, é comum que as crianças explorem o mundo ao seu redor usando a boca como um “sensor”, experimentando texturas e sensações. Crianças autistas podem permanecer mais tempo nessa fase exploratória ou intensificá-la por conta das características do espectro.
Falta de habilidades de comunicação
A dificuldade de expressar sentimentos, vontades ou desconfortos também pode levar ao comportamento de morder. Quando a criança ainda não desenvolveu totalmente a linguagem verbal ou mesmo outras formas de comunicação, ela pode usar o corpo — inclusive a boca — para demonstrar que algo não está bem ou para chamar atenção. Morder, nesse caso, funciona como um sinal de alerta para que o adulto perceba que algo precisa ser interpretado e atendido.
Compreender essas causas é o primeiro passo para acolher esse comportamento com empatia e buscar soluções que promovam o bem-estar da criança de forma respeitosa e eficaz. Nos próximos tópicos, vamos explorar como a alimentação pode contribuir positivamente nesse processo.
A influência da alimentação no comportamento da criança autista
Muitas vezes, não associamos diretamente o que a criança come com seus comportamentos do dia a dia. No entanto, a alimentação tem um impacto profundo no funcionamento do cérebro, nas emoções e, consequentemente, no comportamento. Para crianças com autismo, isso pode ser ainda mais evidente, já que muitos apresentam maior sensibilidade a certos alimentos ou têm necessidades nutricionais específicas.
A relação entre o que a criança come e o comportamento
Determinados alimentos podem influenciar diretamente o sistema nervoso central, afetando o humor, a atenção, a energia e o comportamento da criança. Por exemplo, alimentos ricos em açúcar refinado ou aditivos artificiais podem contribuir para agitação, dificuldade de concentração ou impulsividade. Por outro lado, refeições nutritivas e equilibradas ajudam a manter o organismo mais estável, favorecendo o bem-estar e o controle emocional.
Deficiência de nutrientes essenciais
A falta de nutrientes importantes, como ferro, zinco, magnésio, vitamina B6 ou ômega-3, pode prejudicar o desenvolvimento cognitivo e emocional da criança. Muitas crianças autistas têm seletividade alimentar, o que pode dificultar o consumo de uma variedade adequada de alimentos. Isso pode gerar carências nutricionais que influenciam diretamente no humor, na irritabilidade e até na qualidade do sono.
A importância de uma alimentação balanceada
Manter uma alimentação rica em frutas, legumes, proteínas magras, gorduras saudáveis e grãos integrais é fundamental para qualquer criança — mas para crianças autistas, pode ser uma verdadeira aliada na busca por equilíbrio. Vitaminas do complexo B, ácidos graxos como o ômega-3 e minerais como magnésio e cálcio têm efeito direto na saúde do cérebro, contribuindo para uma melhora no foco, na regulação emocional e na redução de comportamentos impulsivos, como morder objetos.
Exemplos de alimentos que podem ajudar a acalmar comportamentos impulsivos
Alguns alimentos são conhecidos por suas propriedades calmantes e reguladoras do humor. Entre eles estão:
- Peixes como salmão e sardinha (ricos em ômega-3);
- Banana (fonte de triptofano, que ajuda na produção de serotonina);
- Aveia e arroz integral (ricos em carboidratos complexos que ajudam a manter a estabilidade emocional);
- Sementes de chia e linhaça (ricas em ácidos graxos e fibras);
- Verduras verde-escuras, como espinafre e couve (ricas em magnésio).
Introduzir esses alimentos, aos poucos e com o acompanhamento de um nutricionista, pode fazer toda a diferença no comportamento e bem-estar da criança. Além disso, é importante observar possíveis intolerâncias alimentares que também podem influenciar no comportamento, como o glúten e a caseína, em alguns casos.
Nos próximos tópicos, veremos como usar essas informações na prática, com estratégias simples e eficazes para aplicar no dia a dia.
Como a alimentação pode ajudar a reduzir o comportamento de morder objetos
Uma alimentação adequada pode ser uma poderosa aliada na redução de comportamentos impulsivos em crianças com autismo, como o hábito de morder objetos. Ao oferecer ao organismo os nutrientes certos e evitar substâncias que causam irritação ou desregulação emocional, é possível observar melhorias significativas no comportamento e na qualidade de vida da criança. Abaixo, vamos explorar como isso pode ser feito de maneira prática e segura.
Dietas específicas para crianças autistas: a abordagem de dietas livres de glúten ou caseína
Algumas famílias relatam melhora no comportamento da criança ao adotarem dietas restritivas, como a dieta sem glúten (proteína presente no trigo) e sem caseína (proteína do leite). A teoria é que essas substâncias, em algumas crianças, podem causar inflamações ou reações no sistema nervoso, influenciando negativamente no comportamento. Embora ainda existam estudos em andamento, muitos pais e profissionais relatam redução de irritabilidade, melhora na atenção e diminuição de comportamentos repetitivos após a retirada desses alimentos — sempre com orientação profissional.
O papel de suplementos nutricionais, como ômega-3 e pro bióticos, no equilíbrio emocional e comportamento
Alguns suplementos podem complementar a alimentação e contribuir de forma significativa para a regulação emocional e o equilíbrio do comportamento:
- Ômega-3: essencial para o desenvolvimento cerebral, ajuda na comunicação entre os neurônios e pode reduzir a impulsividade.
- Probióticos: fortalecem a saúde intestinal, que está diretamente ligada ao humor e à produção de neurotransmissores como a serotonina.
- Outros nutrientes como zinco, magnésio, vitamina B6 e vitamina D também têm sido associados a melhorias cognitivas e emocionais em crianças autistas.
Dicas práticas para criar um cardápio saudável que favoreça o comportamento positivo
- Ofereça alimentos naturais, ricos em fibras, proteínas magras, legumes e frutas variadas.
- Evite ultraprocessados, corantes artificiais, açúcar em excesso e aditivos químicos, que podem intensificar a agitação.
- Introduza os alimentos calmantes de forma gradual, respeitando a seletividade da criança e buscando apresentar novas opções de forma lúdica.
- Mantenha uma rotina alimentar com horários definidos, o que também contribui para a sensação de segurança e organização.
A importância da consulta com profissionais de saúde: pediatra, nutricionista e terapeuta ocupacional
Antes de fazer mudanças na alimentação da criança, é essencial contar com o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar. O pediatra pode avaliar o estado geral de saúde, o nutricionista infantil pode montar um plano alimentar seguro e adaptado às necessidades da criança, e o terapeuta ocupacional pode ajudar a identificar causas sensoriais para o comportamento de morder, sugerindo estímulos alternativos. Essa abordagem integrada garante segurança, eficácia e mais bem-estar para a criança e sua família.
A alimentação, quando bem orientada, pode se tornar uma ferramenta poderosa na jornada do cuidado com o autismo, ajudando a reduzir comportamentos desafiadores e promovendo mais equilíbrio emocional e qualidade de vida.
Estratégias adicionais para lidar com o comportamento de morder objetos
Embora a alimentação seja um ponto essencial no cuidado com crianças autistas, o manejo do comportamento de morder objetos também deve incluir outras estratégias complementares. Combinar abordagens nutricionais com intervenções terapêuticas e adaptações no ambiente pode trazer resultados mais eficazes e duradouros. A seguir, veja algumas práticas que podem ser incorporadas ao dia a dia:
Terapias comportamentais que podem ajudar a reduzir o comportamento de morder
Terapias como a Análise do Comportamento Aplicada (ABA) e a Terapia Ocupacional com Integração Sensorial são amplamente utilizadas para ajudar crianças autistas a entender e modificar comportamentos desafiadores.
Essas terapias podem ajudar a identificar os gatilhos que levam a criança a morder objetos, oferecendo alternativas mais adequadas para se comunicar ou se autorregular. Além disso, o reforço positivo é utilizado para incentivar comportamentos mais funcionais.
Técnicas de relaxamento e autorregulação que podem ser ensinadas à criança
Ensinar a criança a reconhecer seus sentimentos e encontrar maneiras saudáveis de se acalmar é um processo gradual, mas muito benéfico. Algumas técnicas incluem:
- Respiração profunda guiada, com a ajuda de histórias ou brinquedos;
- Uso de brinquedos sensoriais, como mordedores apropriados, bolinhas de massagem ou tecidos com diferentes texturas;
- Rotinas previsíveis, que ajudam a reduzir a ansiedade;
- Atividades físicas leves, como caminhada, pular ou brincar de forma livre, que liberam energia acumulada e melhoram o humor.
A criação de um ambiente sensorialmente amigável para a criança
Um ambiente adaptado às necessidades sensoriais da criança pode fazer toda a diferença no seu comportamento. Algumas ideias incluem:
- Cantinhos sensoriais com luz suave, sons tranquilos e objetos que a criança possa manipular;
- Redução de estímulos excessivos, como barulhos altos ou luzes muito fortes;
- Disponibilização de objetos apropriados para morder, como mordedores terapêuticos (chewelry), que são seguros e ajudam a atender essa necessidade sem causar danos.
Combinar essas estratégias com amor, paciência e compreensão é fundamental. Cada criança é única, e o caminho para reduzir comportamentos como o de morder objetos passa por observar, compreender e agir com apoio profissional e afeto constante.
Conclusão
O comportamento de morder objetos em crianças com autismo pode ter diversas causas, desde questões sensoriais, dificuldades de comunicação, até fases naturais do desenvolvimento. Compreender esses fatores é o primeiro passo para lidar com a situação de forma mais empática e eficaz.
Ao longo deste artigo, vimos que a alimentação tem um papel fundamental no comportamento da criança. A falta de certos nutrientes, o consumo de alimentos inflamatórios ou a ausência de uma rotina alimentar equilibrada podem intensificar comportamentos impulsivos. Por outro lado, uma dieta rica em vitaminas, minerais, ácidos graxos e até mesmo o uso de suplementos, como ômega-3 e probióticos, pode promover equilíbrio emocional e melhorar a qualidade de vida da criança.
Para os pais, o mais importante é lembrar que não estão sozinhos nessa jornada. Buscar ajuda profissional – de pediatras, nutricionistas, terapeutas comportamentais e terapeutas ocupacionais – pode fazer toda a diferença. Com o acompanhamento certo, é possível ajustar a alimentação, implementar novas estratégias e proporcionar um ambiente mais acolhedor e funcional para a criança.
Se você percebe que seu filho tem o hábito de morder objetos com frequência, considere agendar uma consulta com profissionais especializados em nutrição infantil e comportamento autista. Pequenas mudanças podem gerar grandes transformações no bem-estar e na convivência familiar.